segunda-feira, 28 de maio de 2012

Reflexões de uma peregrina

" Fé é acreditar sem ver"

Frase de meu filho Mateus aos 7 anos, dita ao Pedro durante uma Missa



Já falei de fé aqui em outra oportunidade, mas agora eu quero falar da fé reafirmada.
Depois de me atirar nesse projeto de realizar O Caminho, me sinto muito feliz.
Feliz em saber que um desafio, qualquer que seja ele pode ser vencido com planejamento, preparo e muita determinação. Colocar o sonho lá na frente e peseguí-lo sem olhar para os lados, pois sempre surgirá aquela frase inexplicável:" pra quê você vai fazer isso?" Eu digo que é inexplicável poque até agora não encontrei uma maneira de verbalizar a resposta, pois nada do que eu disser chegará próximo daquilo que eu senti. Os sentimentos não tem explicação,  essa caminhada não pode ser explicada, somente quem já viveu pode entender.

Temos um amigo de muitos, Dantas, que todos os anos que realiza  O Caminho da Fé aqui mesmo no Brasil, sua fé e persistência são admiráveis. Recebi seu conselho  antes da minha viagem:

"Quando você estiver com muitas dificuldades, quando você pensar em desistir, lembre-se de que a única coisa que te manterá no caminho será a FÉ".

Em muitos momentos essa frase me vinha a cabeça, e eu rezava e colocava minha mente em sintonia com o Divino, e assim eu seguia com todas as dificuldades. Hoje eu paro para pensar e vejo que se não fosse a minha fé não teria conseguido.




Feliz!

Também fico pensando que poderia ter aproveitado mais a caminhada, contemplado mais a natureza, conversado mais com as pessoas, experimentado outros sabores. Me passa a impressão de que O caminho poderia ter sido melhor aproveitado, que faltou alguma coisa. Mas no fundo é só impressão, aquele gostinho de querer mais que sempre fica quando tudo está perfeito. Olhando para trás percebo que tudo o que foi realizado teve muita intensidade, muita energia, nada ficou para ser dito, para ser realizado para ser admirado. Tudo foi como deveria ser.

 
O presente desse dia; o arco-iris
Hoje tenho certeza de que sou uma pessoa melhor, consegui reafirmar a minha fé, consegui acreditar mais em mim mesma, consegui ver que o simples é mais bonito, que a natureza é nobre, que o suficiente é diferente para cada pessoa, que o belo está em toda a parte, que todas as pessoas tem um "porquê" que o move, que O Caminho se faz com pessoas, que os amigos saõ fundamentais, e que minha família é a melhor parte de mim.

Acredite, O Caminho está lá te esperando! Mova-se! Experimente algo novo, diferente, acredite, coloque-o em suas metas. mas não se esqiueça de me contar o resultado!

ULTREYA!

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Ânimo!

 "Con pan y vino se anda el camino" 

 "Los duelos con pan son menos"

"Ânimo!"

"Fuerza!"

"Ultreya!"

Essas são algumas frases e expressões que escutamos e por vezes vimos escritas em muitos lugares pelo Caminho.

Sim, são muito simples e verdadeiras e acima de tudo nenessárias! Sempre que líamos uma dessas palavras costumávamos repetí-las bem alto e forte e é claro que sempre imáginávamos as pessoas queridas nos desejando muita força e energia.

Em muitos pontos do caminho, existem muros, pontes, túneis, placas, cartazes pintados com expressões que costumam oferecer maior força e motivação para os peregrinos. Muitas delas pixadas no chão. Existem também frases lindas escritas em azulejos em restaurantes e cartazes nos albergues que nos levam a reflexões.





Parada para almoço, Menu Peregrino com pão e vinho


A primeira frase é muito verdadeira. Confesso que ao ouvir relatos de peregrinos dizendo que tomavam vinho durante o caminho, me trazia estranheza. Eu não sou uma pessoa de beber frequentemente, somente socialmente e muito pouco, não tenho muita resistência, então não me imaginava no meio da tarde bebendo vinho e retomando a caminhada, e achava impossível!

Mas, os costumes da país nos levam a aderir a este costume. Na Espanha bebe-se vinho nas principais refeições, e é claro que para os peregrinos também serve-se um bom vinho de mesa geralmente da região, mas sempre espanhol. Em abril estava ainda muito frrio, como sabem muita chuva e neve. O vinho vinha como um elixir que aquecia e oferecia novo ânimo para a retomada da caminhada ou simplesmente para relaxar e descansar. Em muitos lugares da Espanha os restaurantes oferecem um cardápio especial a preço único chamado MENU ( o mesmo que nosso almoço executivo), que compreende: entrada ( sopa ou salada), prato principal ( peixe, carne ou frango geralmente com batatas e  verduras), sobremesa, água e vinho. No Caminho de Santiago esse menu recebe o nome de MENU PEREGRINO com preços bem acessíveis ( varia de 8 a 12 Euros).





A palavra mais lida: ânimo!


Não vimos nenhum peregrino se excedendo na medida de vinho, pelo contrário, parece que o vinho oferece uma dose de descontração necessária para enfrentar os desafios. Com o pão e o vinho a caminhada segue mais leve. Como na vida, quando estamos alimentados em todos os sentidos, física e espiritualmente a caminhada segue mais tranquila.

As palavras energizantes e a boa alimentação são tão essenciais e motivadoras quanto a torcida numa partida de futebol. Eu diria até que são fundamentais. A energia demandada entra dentro de cada pessoa e um sopro de vontade, de vibração surge e contamina todas as células que obedecendo as mensagens do cérebro pulsam e oferecem uma carga extra.




Cartaz na parede de um albergue


Certamente você já sentiu isso em algum momento da sua vida, quando recebeu uma boa notícia ou quando conquistou algo muito expressivo, e pode entender perfeitamente o que estou dizendo.

Para ilustrar vamos ao significado da palavra ÂNIMO:

s.m. Disposição de espírito; alento.
Gênio, índole natural das pessoas.
Coragem, valor, resolução.
Intenção; desejo: sem ânimo de ofender.
Interj. Coragem!, eia!

E ainda a origem:

 Latim ANIMUS, “alma, coragem, desejo, mente”, relacionado a ANIMA, “ser vivo, espírito, coragem, disposição”, derivado do Indo-Europeu ANE-, “assoprar, respirar”, atividade a que os seres vivos costumam se dedicar com afinco.


Muito ÂNIMO para vocês!

ULTREYA!

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O Caminho não sai da gente


Lá se foi 1 mês do dia em que chegamos a Santiago ( 15 de Abril). Mesmo voltando a rotina que me esperava e o Caminho ter ficado tão longe não dá para esquecê-lo.

"A gente sai do Caminho, mas o Caminho não sai da gente".

Não sei se eu li esta frase ou se é minha mesmo ( certamente não é...), mas a verdade é que não dá para esquecer. É o que eu penso. É o que eu sinto.
E sei que isso não acontece somente comigo. vejo depoimentos de pessoas que fizeram o Caminho há tanto tempo e dizem o mesmo. Estou sempre lendo relatos sobre a caminhada, outras vidas, outras experiências, cada uma com sua particularidade. Pessoas que já voltaram e refizeram O Caminho uma, duas, cinco vezes! Agora sim consigo compreender este "fenômeno", mas mesmo assim é indescritível.
Portanto ao receber "o chamado", não exite! Prepare-se, programe-se, não importa o tempo, não importa o que aconteça, a sua caminhada já começou a se tornar realidade.





Chegada nO Cebreiro

Num dos trechos da nossa caminhada, fomos ultrapassadas por 3 jovens com idade entre 25 e 30 anos, eles traziam um terço nas mãos e rezavam em inglês. Voltamos a encontrá-los em outros lugares como restaurantes, cafés, albergues. Os três sempre juntos, usavam roupas parecidas. Numa das oportunidades conversamos brevemente e nos disseram que vinhas da Inglaterra, Irlanda e Islândia. Mas a grande dúvida era se eles eram ou não seminaristas, eu sempre comentava isso com a Dani. Quando chegamos a Santiago, nos encontramos com eles, que chegaram um dia depois. Estavam perdidos pela cidade com um mapa nãs mão procurando um lugar para ficar. Indicamos o nosso hotel e eles nos agradeceram muito, sempre simpáticos e muito educados. Ainda com a curiosidade aguçada, pensamos mais uma vez em perguntar-lhes sobre o que os trouxerram ao Caminho, mas não o fizemos. No dia seguinte, estávamos na catedral de Santiago e novamente nos encontramos, e dessa vez conversamos um pouco mais sobre O Caminho e acabamos por saber que são mesmo seminaristas e em breve se tornarão Padres Católicos, estavam muito felizes em realizar O Caminho. Pois nós também ficamos felizes por eles. afinal eles foram chamados para uma missão muito importante.




Os três rapazes

Tocando em Frente

Almir Sater

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei,
Ou nada sei

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente

Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
 Estrada eu sou

Todo mundo ama um dia,
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora

Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

ULTREYA!


quinta-feira, 10 de maio de 2012

Albergues

"Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra! Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida é a prova de que as pessoas não se encontram por acaso."



Esse é um tema importante e que faz a diferença em toda a caminhada. ter em mãos um bom e atualizado guia vai ajudar muito na escolha e descrição dos albergues em cada etapa.

A primeira coisa que temos que obeservar é o orçamento disponível para a hospedagem. Depois a questão do conforto, da facilidade e a melhor parte que é a de convivência e entrosamento com os demais peregrinos.
Em relação aos custos, a minha experiência mostrou que vale sim e muito! Pagamos nos algbergues em que fiquei de 5 a 10 Euros, uma média de 8 Euros por dia, com direito a cama limpa com lençóis de tecido ou descartáveis, banho quente, mantas e em alguns casos aquecimento. A maioria deles dispõe de cozinha sem custo algum! Muitos  disponibilizam internet a custo de 1 a 2 Euros por hora. Lavadoras de roupas e secadoras também são importantes, mas o custo não é barato, em média de 8 Euros no total. O peregrino também pode lavar as roupas em locais adequados ( tanque) e deixar secando no varal, ou então usar somente a secadora. De qualquer forma, ter roupas limpas para começar o dia é muito melhor! 



Café da manhã Albergue em Léon


Nós aprendemos muito rapidamente a escolher um bom albergue, apesar de nem sempre isso ser possível. Como estava muito frio, a primeira pergunta que fazíamos era sobre o aquecimento e disponibilidade de mantas, depois verificávamos se tinha cozinha, internet, lavadora etc, dependendo da nossa necessidade. Geralmente pedíamos para conhecer o albergue antes de decidirmos e isso é totalmente possível. Em algumas cidades ou vilarejos ñão existem muitas opçõies, portanto se quiser permanecer no local tem que ficar no albergue disponível.



Albergue Municipal em San Martin del Camino, não tinha aquecimento e passamos frio a noite

Eu e a Daniele tivemos muita sorte nesse ponto. A grande maioria dos albergues eram muito bons. É claro que a época do ano ajudou muito, pois não haviam muitos peregrinos no Caminho. Nas épocas de verão, na alta temporada, tudo fica mais difícil, os albergues ficam lotados! E muitos peregrinos percorrem seus trechos de caminhada em certa velocidade para chegarem cedo nos albergues e garantir o lugar! Nesse ponto nós ficaríamos sempre sem vaga, pois nossa caminhada é mais lenta e tranquila.
Alguns albergues realmente nos surpreenderam em questão de espaço e conforto. Outros na atenção dos hospitaleiros fazendo com que o peregrino se sentisse à vontade. Outros por facilitar a convivência disponibilizando área comum para convívio, cozinha espaçosa, etc. Em alguns albergues servem café da manhã mediante pagamento que varia de 2 a 4 Euros, é uma facilidade para o peregrino, que não precisa se preocupar com a alimentação antes de sair para sua caminhada.
Existem os albergues públicos e os privados.
Os albergues públicos são mais baratos, desde 5 Euros até uma doação voluntária, que pode ser uma moeda o que atrai mais peregrinos. Os privados são um pouco mais caros, entre 8 e 10 Euros, geralmente possuem mais comodidades como correio, internet, telefone público, lençóis, mantas, banheiros mais limpos e prédio bem cuidado. Alguns disponibilizam sabonete líquido e toalhas de papel nos banheiros.




Daniele usando a internet, praticamente dentro do armário!

Mas o mais importante em tudo isso é a convivência com as pessoas, que independente do local ou conforto é sempre positiva. Conhecemos pessoas de diferentes locais, diferentes idades e o mesmo objetivo. A convivência é rápida e momentânea, nem sempre sabemos o nome ou de onde são, cada um deixa um pouco de sí e leva um pouquinho dos outros também. A solidariedade é importante, divide-se o espaço, o banheiro, a comida, os remédios e informações, experiências e parte da vida.


 

Com Juan, boliviano que trabalha no albergue

Conhecemos alguns peregrinos que não se utilizavam dos albergues, preferiam passar a noite em Hostal, que são hotéis mais simples e que disponibilizam suítes individuais. Eu e a Dani estávamos com abertura para, em algum momento ficarmos em algum desses Hostais no Caminho, mas não ficamos. Nos adaptamos muito bem na rotina de procurar albergues e aceitar principalmente o que eles nos ofereciam, e foi muito bom!



Quarto do albergue em Ponferrada


Outra dica que procurávamos seguir era de nas cidades maiores procurarmos albergues mais no centro da cidade, pois ficaria mais próximo de farmácias e supermercados além de no dia seguinte estarmos mais próximos da saída para o Caminho.
Em Villafranca del Biezo, ficamos no Albergue da Pedra, onde fomos recebidas por Conan, um Golden Retriver muito manso, o albergue é privado, está instalado numa casa grudada numa grande pedra e o quarto ficava no terceiro andar! O banheiro e a cozinha no segundo piso, a internet no primeiro. Imaginem ficar subindo e descendo as escadas depois de um dia inteiro de caminhada! Mas apesar disso o albergue era muito bom, espaçoso, com banheiros limpos e privativos.
Nesse dia resolvemos cozinhar, mas não foi preciso, uma família de italianos nos ofereceu no jantar uma pasta ao pomodori e outros peregrinos o vinho  que devoramos, não sei se estava deliciosa ou a nossa fome era mesmo grande!




Descansando no albergue A Pedra


Dani se alongando no albergue A Pedra

Alguns albergues não aceitam bicigrinos, pois não possuem lugar para guardar as bicicletas, outros não aceitam cães, mas todos aceitam peregrinos. os peregrinos tem prtoridade nos albergues, pois entende-se que esses realizam maiores esforços durante a jornada.



 Quarto no Albergue As Irmãs Carbalajas em Léon

A cidade de Sárria é a que mais possui albergues em todo o caminho, isso porque é o ponto em que faltam somente 100 Km para chegar a Santiago, e assim, muitas pessoas iniciam seu caminho aqui. A cidade é bem bonita e agradável. Escolhemos um albergue pequeno, familiar e bem localizado. Muito bom! Nesse dia, procuramos um local para a refeição do dia, porém os restaurantes só serviam o almoço até as 15:30 hs e o jantar a partir das 20:00hs, resultado: não encontramos nada para comer além de café com madalenas! Então resolvemos cozinhar e foi a melhor coisa que fizemos! No supermercado compramos os ingredientes para uma pasta a bolonhesa, com direito a vinho tinto e de sobremesa morangos com chantily! A fome era tanta que devoramos tudo!




Cozinhando


Café da manhã em San Martin




Aconchego junto a lareira, os brasileiros tem mais frio!





Primeiros socorros, tem em todo albergue, além de gelo



Dani com a funcionária do albergue em frente a lareira que serviu para secar nossas roupas



ULTREYA!

domingo, 6 de maio de 2012

Buen camino!

 "Caminhante, não há caminho. Faz-se o caminho ao andar."



Buen Camino!

Essa foi a primeira frase que ouvi quando deixei o albergue em Léon e dei meu primeiro passo.
Estava ansiosa e emplogada em seguir as setas e vivenciar essa maravilhosa experiência. Ao cruzar a cidade rumo a saída, a frase segue nos acompanhando pronunciada por um sem número de pessoas desonhecidas que seguiam para seu trabalho ou escola e passavam por nós. A cada frase um sorriso e um brilho especial no olhar. Vimos também a frase em diversoso lugares, paredes, placas e até escritas no chão.



Essa é na saída de Astorga

Todos sabem da minha longa preparação para realizar O caminho, é claro que cada passo foi importante e fundamental para seguir caminhando, mas também é importante deixar claro que não é preciso ser um atleta para suportar a intensidade do ritmo e o peso da mochila. Encontramos pessoas de todas as faixas etárias, desde a doce espanhola Celinha de 12 anos até a impressionante Francesa Cristine, que por ética me recuso a dizer a idade, e que fazia o caminho ao contrário. Todos com a mesma alegria e entusiasmo, cada um com seu propósito e especialmente muita força de vontade.
Cada pessoa recebe "o chamado", numa época diferente da vida, e segue caminhando colorindo as trilhas e mantendo O caminho vivo e iluminado, sempre.


 Eu e Daniele com Cristine da França



 Eu e Celinha, peregrina de 12 anos

Além das pessoas também encontramos crianças ainda menores. Num dos albergues nos deparamos com um casal levando um pequeno bebê de alguns meses de idade, também encontramos um casal com seu cão Índio levando sua mochila e sua concha feliz da vida!



Índio com sua mochila que tinha até a Concha


Os bicigrinos, que chegam bastante equipados, seguem desejando Buen Camino a todos os peregrinos. Sobre eles temos algumas passagens interessantes. No primeiro dia, encontramos com um grupo de 10 bicigrinos parados descansando e resolvemos perguntar quantos Km faltavam para chegar na próxima cidade. Eram espanhóis, e depois de perguntarem uns aos outros, trocarem idéias, um deles abre uma planilha com os trechos e kilometragens a serem cumpridas, outro consulta um GPS, o outro um mapa, e depois de conversarem muito e não conseguirem nos responder dizem: "sigam as setas amarelas!!" Nem preciso dizer que eu e a Daniele caimos na risada!




Bicigrinos passando por nós

No albergue de Ponferrada, eu estava entregando as nossas roupas ao hospedeiro Angel que iria lavá-las, quando um rapaz, bicigrino me perguntou se poderia lavar suas roupas juntamente com as nossas, fiz aquela cara de interrogação mas concordei, como tinham muitas pessoas na fila ( eu estava em 4o. lugar), vi que seria difícil conseguir lavar as roupas naquele dia. Coisas do Caminho!

Nos deparamos com muitos bicigrinos pelos caminhos, nos albergues, nos restaurantes. Eles imprimem um ritmo bastante forte e chegam a percorrer de 70 a 100 Km por dia! Geralmente acordam bem cedo com suas lanternas e chegam a noite, estão sempre as voltas com seus equipamentos, consertando pneus e cuidando das bikes, são bem alegres e conversadores, geralmente em grupos ou em duplas.

 As palavras Buen Camino, nos parecem desejos de uma grande caminhada, não somente neste momento, mas que os votos sigam por toda a caminhada de vida.






Que todos tenham BUEN CAMINO!

ULTREYA!


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Falando de gente


"As vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido".

Fernando Pessoa


Esse é o melhor tema a abordar no Caminho: GENTE!

E como se encontra com eleas nessa Peregrinação. Muitas delas são anjos sem nome e sem identidade que surgem e desaparecem como mágica. Mesmo dentro das cidades, nos deparamos com os moradores locais, quando avistam peregrinos com olhares perdidos, logo ghegam para nos dar indicações. Isso aconteceu muitas vezes.
Nos albergues, podemos dizer que existem muitos também, é claro que no meio dos anjinhos sempre existe aquele que "repetiu de ano" e ainda precisa se formar, mas do mesmo modo seguimos gentis, pois a vida se encarrega de ensinar.

Há um código interessante entre todas essas pessoas, que se chama respeito pela individualidade. Não existe a pergunta: " porque você está fazendo O Caminho de Santiago?" Eu não a escutei nenhuma vez! O respeito é tão grande que se torna bonito, como as flores, ninguém pergunta porque estão lá! Fazem parte da paisagem e do movimento constante da caminhada.

Também senti O Caminho como um sacerdócio, dia após dia, os mesmos rituais: acordar em silêncio, cuidar da higiene pessoal, preparar o corpo físico e mental e seguir em frente. Dia após dia, é como dizer um Mantra em voz alta, essa movimentação ecoa na egrégora formada há tantos anos, é a sinfonia dos passos, a marcação dos cajados,  a fluidez dos pensamentos. É como uma oração, tem intenção, tem ambiente e tem ritmo.

Conhecemos muitas pessoas nessa caminhada, de muitas partes da Espanha, de outros países e de continentes distantes. Muitas vezes me via imaginando as motivações de cada uma delas, o comportamento, a forma de se vestir, o caminhar, o falar, o silêncio, o olhar.

A 6 KM para chegarmos em Astorga, no meio do caminho, nos surpreendemos e encontramos David. Ele vive no caminho, tem uma barraca com alimentos de excelente qualidade a disposição dos peregrinos, ele fala e conversa o tempo todo nos contando da sua experiência. Vida normal em Barcelona, depois do Caminho de Santiago decidiu desapegar de tudo! Elegeu um local para viver e de certa forma minimizar o esforço dos peregrinos com o aconvhego de um banco com o calor do alimento. Também é poeta e faz questão de falar que todos os caminhos levam ao coração. Cuida do caminho, constrói setas com as pedras e também mandalas, diz que assim é bem feliz. Tem sempre uma palavra para os peregrinos e os recebe sempre com alegria e entusiasmo. Me lembro que ficamos estasiados com ele, mas o Gustavo ficou mesmo encantado!



 Essa é a Mandala que leva ao coração


Eu e Daniele com David



Em Rabanal del Camino conhecemos no Albergue Del Pilar  uma pessoa muito interessante, o alemão radicado na Espanha, conhecido como Lobo, um hospedeiro que recebe os peregrinos nos albergues com muita atenção e carinho. Ele nos contou que já fez o Caminho de Santiago algumas vezes e que há 16 anos trabalha como hospedeiro. Os hospedeiros são pessoas comuns, geralmente peregrinos que já percorreram o Caminho e trabalham nos albergues do Caminho voluntariamente. Existem programas de voluntariado e qualquer pessoa pode se candidatar. essas pessoas são muito importantes para os peregrinos, pois costumam fazer com que tenham um pouco mais de conforto e atenção nos albergues. No dia em que conhecemos o Lobo, fazia muito frio, ele ajudou a Daniele a secar as botas e também conversou conosco. Podemos dizer que são os anjos do Caminho.




Eu e Lobo



Dentre as várias pessoas que cruzamos no Caminho, algumas se tornaram enigmas. Num dos albergues, vimos um rapaz chegando todo molhado, pois vestia somente um casaco de moleton, a chuva e o frio tinham aumentado muito naquele dia. Ele chegou no albergue puxando um carrinho de mão, amarrado na cintura com suas coisas. Percebi que não conversou com ninguém, e não sentou-se conosco para o jantar, nem sei se ele se alimentou naquela noite. Nós o chamávamos de canadense, pois ele usava um moleton com o nome desse país na frente. Viemos a encontrar com esse rapaz que aparentava ter por volta de 30 anos, mais algumas vezes durante o Caminho. Ele não conversava com ninguém, estava sempre sozinho, solitário mesmo. Eu tive por 2 vezes a oportunidade de conversar com ele, mas percebi que não haveria disponobilização para isso. O que mais me intrigou nesse rapaz não era a sua opção pela solidão, pois entendo perfeitamente que muitas pessoas queiram ficar sozinhos e em silêncio nessa viagem interior, mas sim o seu olhar que por diversas vezes era vazio, distante e sem brilho. Tive vontade de ajudá-lo, mas a oportunidade não apareceu. Só me resta torcer para que ele tenha encontrado o que buscava. Quando chegamos a Santiago, comentei sobre ele com o Marcus, ele também tentou se aproximar do rapaz, mas ele foi refratário, só conseguiu saber que ele é da Lituânia. São os mistérios do Caminho.




Essa é a únioca foto que temos dele


Também encontramos muitas pessoas alegres e divertidas. Percebi que os espanhóis são muito descontraídos e fazem o Caminho com muita alegria. Conhecemos espanhóis de todas as regiões e eles são muito "bairristas", conversam em dialetos o que nem mesmo os próprios espanhõis entendem, imaginem nós! Dentre essas pessoas estam a Encarnación e Esther, duas amigas muito animadas. Estavam caminhando somente na Semana Santa e as encontramos em algumas etapas, até que retornaram para suas casas. Elas nos disseram que observavam muito a dupla brasileira ( eu e Dani), e que pensavam que nós estávamos passeando!! Já disse várias vezes que nosso totmo era bem mais tranquilo, mas passear?? Foi um exagero! Mas ficamos amigas e elas são muito simpáticas, conversamos algumas vezes, foi muito bom fazermos novas amizades.





 Eu e Encarna, no Albergue de Astorga



Em breve mais histórias.

ULTREYA!