domingo, 22 de janeiro de 2012

Trilhas Peregrinas

"Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado."

Roberto Shinyashiki



Seta no Caminho da Fé


Todo projeto, que envolva um sonho, uma grande vontade, mesmo que pessoal acaba envolvendo muitas pessoas. Pessoas que convivemos diariamente e que nos apoiam e admiram, são partícipes desse sonho.
Outras desconhecidas, que pela magia da web acabamos nos encontrando e partilhando do caminho. Outras, são amigos antigos que se reaproximaram e muitos amigos novos.
É claro que a  família mais próxima, acaba compartilhando muitos momentos bem de perto. A  primeira pessoa a quem participei o minha ideia foi o Pedro, meu marido, percebi que ele ficou sim muito surpreso, mas me apoiou e admirou a minha coragem.
Depois contei para meus filhos, um a um e a reação deles foi surpreendente, primeiro quiseram saber desde quando eu tinha essa vontade, de onde surgiu a ideia, depois vieram os questionamentos, próprios daqueles que cuidam: quem iria comigo, quando, como, porquê.
Depois contei para a Roberta, algumas amigas e minha mãe, cuja reação me surpreendeu e até cogitou em me acompanhar.
Foi então que surgiu a ideia de escrever sobre o assunto e porque não publicar num Blog? Essa talvez tenha sido a minha mais corajosa atitude, muito mais do que decidir realizar O Caminho.
Escrever demanda uma grande exposição e uma disciplina que antes eu não tinha, e mais, o dom de escrever e atingir mentes e corações.
Confesso que esse ponto me preocupa e preenche minha mente na maior parte do dia. Fico pensando nos assuntos, em como escrever. Passo horas pesquisando frases, fotos e argumentos. tenho vários posts no rascunho e levo muito tempo bordando os textos até decidir que sejam postados, mesmo ainda não estando totalmente satisfeita com o resultado.
O Blog deve ser interativo e no inicio ficava apreensiva aguardando os comentários, incentivos e quem sabe novas ideias. Mas isso acabou passando e hoje entendo que muitas pessoas acessam o blog, leem,  mas preferem não postar comentário. Algumas me escrevem em particular, outras preferem falar pessoalmente e sempre acabo sendo surpreendida.
Eu nunca tinha experimentado compartilhar pensamentos e sentimentos, meu perfil é de uma pessoa mais reservada que prefere guardar para si a maior parte dos sentimentos.
Mas como já sabemos "o chamado" ao Caminho é sempre inusitado, não existe hora marcada e nem reações previsíveis. Parece que algo é ativado em nosso cérebro que nos impulsiona a fazer coisas que antes nem passavam pela cabeça.  Pessoas em nossa vida que surgem para nos ensinar, mostrar, alertar, enfim, que já começam a fazer parte da nossa vida.





Uma vez, um amigo peregrino me contou, que no Caminho de Santiago, subindo o Alto do Perdão*, teve muitas dificuldades. Sua subida foi bastante lenta, lhe faltava o ar e muitas vezes precisava parar para retomar o fôlego. Ao chegar lá em cima ( fico imaginando como deve ser lindo e especialmente recompensador), olhou para baixo e só via suas pegadas. Ninguém para recebê-lo, nenhuma pessoa para parabenizá-lo, somente ele era testemunha do grande esforço realizado. Foi então que lhe veio a mente que o verdadeiro Caminho é feito com uma única companhia: Deus. Somente Ele é capaz de mostrar o verdadeiro Caminho e acompanhar cada passo, somente Ele é a testemunha do esforço, e quem vai revigorar o cansaço. Foi então depois dessa constatação que o caminho ficou mais leve e significativo.

* O Alto do Perdão, está a 200mts acima do nível da cidade de Pamplona, na serra que separa os vales de Ilzalbe e do Rio Arga. No local estão as estátuas de ferro representando os primeiros peregrinos.
O local também é chamado de Caminho dos Ventos, onde também pode-se avistar cataventos de energia eólica.



Alto de Perdão


Dentre as pessoas novas que entraram de alguma forma nesse meu projeto está a Gera, que também escreve um Blog (http://trilhasperegrinas.blogspot.com/) e me empresta agora a seguinte poesia, publicada no Blog em 19/04/2011.

"...sentir a terra firme e quente sob meus pés, me leva a perceber a contradição entre mim e a trilha...ela firme eu vacilante...ela decidida, eu perdida...o caminho tão definido em ensinar e eu lenta em aprender!
Perco-me sempre ao caminhar por trilhas que me tornam peregrina.....a cada final de dia, sinto ser alguém que modifica-se como as folhas no chão da trilha que deixam-se levar pelo vento ou por uma simples brisa, morna, delicada e suave que simplesmente cumpre com seu dever em levar a folha ao lugar que lhe cabe dentro da Vida..." Gera




Deixo aqui um especial agradecimento a todas as pessoas que estão envolvidas na minha vida neste momento. Sem vocês eu não conseguiria.

Obrigada!


Ultreya e Suseya!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O Peregrino



“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor.
Conhecer o frio para desfrutar o calor. 
E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. 
Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. 
Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”.




Amyr em sua peregrinação




Eu na minha peregrinação à Santiago de Compostela em 2015


Assim se fazem os peregrinos, os viajantes, os desbravadores, os sanderistas, os caminhantes, tomam seu caminho em busca de aprendizado, do novo, do desconhecido. Agarram-se nos sonhos e fazem deles seu projeto, sua meta e objetivo. Vivenciam histórias, reconhecem lugares, conhecem pessoas e depois voltam para contar, para compartilhar.

O peregrino faz de sua experiência, a experimentação de outras pessoas, transforma o inerte em aventureiro, aguça a curiosidade e faz surgir novos sonhos, novos projetos. É como uma roda que não para. Como diz o peregrino em seu texto acima: nos torna alunos.

O peregrino deixa vivo o sonho, a vontade, apresenta a esperança e a vida volta a pulsar. O peregrino faz o seu caminho e também dos outros caminhantes, mesmo aqueles que não percorrem o mesmo caminho fisicamente. Todos nós caminhamos os caminhos daqueles que vieram antes e nos trouxeram sua experiência, sua memória e suas impressões. E é ai que o próprio caminho se apresenta virgem, nu a ser desbravado por outras pessoas. O caminho é sempre novo, como o rio que não passa duas vezes no mesmo lugar. Assim ele se renova a cada passo.

Cada caminho é único, próprio. Cada pessoa desenha a sua trajetória, faz a sua história, imprime sua marca, deixa a sua pegada.

O peregrino faz o caminho e o caminho se faz no peregrino, é um momento de comunhão, um estado de graça, é o próprio milagre se desvendando. A peregrinação não é somente o ato de caminhar, ela trás consigo uma motivação por ou para algo, tem um valor agregado que cada peregrino em sua individualidade, vai desvendar.





Monte do Perdão em 2015


Eu imagino e acredito que os peregrinos formam uma espécie de "irmandade" invisível, uma legião de pessoas que incumbidas do mesmo propósito se solidarizam, ajudam-se mesmo não se conhecendo. Há uma certa identificação entre os peregrinos, não sei se é tácito, ou se está implícito! Se se percebe no olhar ou no caminhar, ou seria no coração? Sei que os peregrinos se tornam uma grande e numerosa família, que se identifica, se acolhem, se ajudam. A peregrinação, seja ela qual for, tem o poder transformador, agregador, é poderosa e arrebatadora.







Minhas botas, companheiras fiéis!



Outra peculiaridade que considero de uma inteligência ímpar, é a maneira como muitos peregrinos se cumprimentam. O famoso "abraço peregrino", nada mais é que um abraço, com o braço esquerdo levantado e de coração para coração.




Abraço peregrino



A peregrinação faz mudanças tão significativas e importantes nas pessoas em tão pouco tempo que chega até a impressionar.

Abaixo o trecho de um artigo do peregrino José Palma, publicado no Jornal A Tribuna de Piracicaba que retrata as emoções sentidas durante o Caminho do Sol.


"-- Por favor, me poupe, não me leve a mal, mas detesto abraços.( a peregrina no 1o. dia)

Onze dias depois, ao chegar a Pousada para tomar nosso café dominical, recebo dela um abraço peregrino seguido de justificativas.
-- Palma aprendi a abraçar, como é gostoso!
Aprendi a sorrir, a perdoar, a ficar comigo, a curtir as coisas simples.
Aprendi a ouvir o canto e o encanto dos pássaros, a olhar o céu e contemplar a geografia das nuvens.
Mas principalmente aprendi a viver e conviver com os seres humanos.
Hoje aprendi a receber o calor de um abraço peregrino.
Sei o valor e a importância do braço amigo.
Dos braços que me ajudaram nos momentos difíceis.
Dos braços que me socorreram, quando as pernas me faltaram.
Dos braços fraternos que foram buscar a água que secou.
Dos braços que abraçam.
Como é bom!"




Ultreya e Suseya!

sábado, 7 de janeiro de 2012

Planos...planos...planos...

"O coração do homem considera o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos."
(Provérbios 16:9)



Esta semana está sendo dedicada ao planejamento do Caminho.
Uma notícia muito animadora que gostaria de compartilhar é a certeza que terei a companhia da Daniele. A partir de agora somos uma dupla, e precisamos pensar em equipe, já iniciamos nossos planos. A primeira resolução foi verificar o tempo que temos disponível e procurar adaptá-lo aos tempo de caminhada e ainda limitando a distância possível de ser percorrida conforme o nosso limite. Difícil? A princípio pensei ser impossível! Mas, refletimos bastante e percebi que neste ponto, eu e a Dani combinamos bastante, o nosso ritmo é praticamente o mesmo e a nossa resistência também. Pensamos da mesma forma na questão de desgaste físico durante a caminhada. Percebemos que não há necessidade em "nos matarmos"  ou fazermos "penitência". Para nós o  Caminho deve ser suave, prazeroso, propiciando a introspecção e meditação.





Conforme o guia que conseguimos emprestado, os trechos a serem percorridos variam de 20 a 40 KM por dia. Na nossa análise, percebemos que existem no meio desses trechos, restaurantes, farmácias, hospitais, albergues e até mesmo pontos turísticos. Pelo visto, o caminho é bastante estruturado oferecendo atendimento a todo o tipo de necessidade, permitindo que sejam  percorridos trechos mais curtos.
O Caminho nos chama e está lá para ser percorrido da forma que cabe a cada pessoa. Ele não é uma competição que trará um prêmio para aquele que chegar mais rápido, em menos tempo. A recompensa é pessoal e vai variar de pessoa para pessoa.

Pensando dessa maneira, e  pelo ritmo que queremos imprimir, conseguiremos percorrer os quase 800km em pelo menos 60 dias!!! E não pelos 32 propostos inicialmente pela maioria dos guias e peregrinos pesquisados.

Conclusão: nesse momento não seria possível realizarmos o Caminho Francês completamente. Solução? Decidimos optar em realizar uma parte do Caminho, apesar de termos uma vontade enorme de fazermos por completo. Mas seremos justas e realistas. O NOSSO caminho será diferenciado. Afinal, o Caminho está lá para ser percorrido da maneira que cabe a cada pessoa. Então, vamos a ele!

"O limite de cada dor é uma dor maior."

Confesso que essa decisão foi bastante difícil, e desde que cheguei do Caminho da Fé, já estava amadurecendo a ideia. As caminhadas preparatórias são importantes para percebemos como nosso corpo responde ao tempo, as intempéries, ao peso da mochila e assim tirarmos as conclusões.
Eu e a Dani fizemos a nossa primeira reunião na última sexta feira e decidimos iniciar o Caminho em Leon a 304 KM de Santiago de Compostela.Teoricamente, para vencermos esse trecho levaríamos 12 dias, contemplando caminhadas de 20 a 40 KM em diferentes trechos.
Então, decidimos dividir os mais compridos e definimos nossa caminhada em  17 dias.



Trecho do Caminho em Leon



O principal objetivo é a manutenção da qualidade de caminhada, fazermos as paradas necessárias tranquilamente e ainda podermos conhecer melhor os lugares, igrejas monastérios e pontos turísticos.

É claro que a caminhada não vai terminar em Santiago, vamos ainda até Finisterre para cumprir o ritual da queima das roupas e o banho de mar.
Particularmente estou feliz e aliviada, primeiro por ter a companhia de uma garota extraordinária que é a Daniele, e segundo por poder definir algo que vai de encontro com a minha possibilidade. Sinto também que para minha família, especialmente para o Pedro, foi um alívio! Ele estava mesmo muito preocupado.

Os planos seguem! O próximo passo é complementar os equipamentos.
Vamos seguindo O Caminho!





Ultreya e Suseya!