segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A concha

Desde a Idade Média, quando os Discípulos de Santiago: Anastácio e Teodoro trouxeram seu corpo de barco sem vela ou motor somente guiados por um anjo, para repousar em terras espanholas já ouve-se diversos relatos sobre ela: a concha vieira.

Muitas lendas se espalharam desde então, desde as mais simplórias até as mais robustas,  sobre este símbolo utilizado pelos peregrinos que vão a Santiago de Compostela.
Conta-se que no ano de 1532, data da primeira narração sobre um suposto milagre que originou esse antiquíssimo costume de utilizar a concha como símbolo, um  príncipe que vinha cavalgando partindo de terras longínquas com o único objetivo de conhecer e orar frente a tumba do Apóstolo Santiago, quando sofreu o ataque de uma serpente.
O seu cavalo, reagindo, começou a corcovear e pondo-se a galope correu com a sua montaria em direção ao mar. O animal jogou-se à água com o seu cavalheiro, o príncipe que estando a se afogar encomendou sua alma a Santiago. Minutos depois, seu corpo emergiu das águas são e salvo e totalmente coberto de conchas de vieira. Com a divulgação desse milagre, os peregrinos começaram a utilizar a concha de vieira como forma de proteção, que também está associada ao Graal.

Simboliza, para o viajante, absorver a sabedoria e a entidade de Cristo como seu Eu Superior.

                                       



Todo o peregrino utiliza pendurar uma concha de vieira na sua mochila, no pescoço, ou no caso dos bicigrinos em seu equipamento. Eu mesma tive a oportunidade de ver muitos deles em Compostela e até em outras cidades da Europa, visto que, muitos peregrinos depois de alcançarem seu objetivo costumam viajar por outros lugares da Europa.

Outra história que se ouve contar sobre a concha  que significa  proteção  e busca de conhecimento, e deve ser devolvida ao mar depois de completado O Caminho. Isto significa que o caminho só terminará em Finisterre, onde o peregrino poderá agradecer a proteção e mostrar que seu conhecimento será compartilhado com outras pessoas, devolvendo então sua concha ao mar.


                             




                             


                                        Veja as conchas nas mochilas dos peregrinos



Dizem também, que na realidade, a origem dessa tradição na utilização da concha, deriva-se do fato que os peregrinos que regressavam de Finisterre - fim do mundo conhecido naquela época - deviam mostrar aos seus familiares e amigos, alguma prova ou símbolo que testemunhasse haver cumprido com êxito a sua peregrinação até Compostela.

Estavam ainda na Idade Média, mas sabiam que o Santo Sepulcro se encontrava próximo ao mar, sendo assim,  nada mais justo que os peregrinos, ao retornarem às suas casas, levasse uma concha como recordação e demonstração. Surge então o costume de recolherem uma concha junto ao mar de que se acercavam depois de haver orado junto a tumba do Apóstolo.
Hoje, pode-se ver e encontrar a concha por todo o percurso, para indicar o caminho ou demonstrar que naquele local o peregrino é bem-vindo.

Na cidade de Santiago de Compostela pode-se encontrar a concha em diversos lugares, no chão, nas pedras, em muitos lugares na Catedral, nas casas, hotéis, enfim, nos mais diversos lugares.











Esta concha estava na cabeceira da cama na Hospedaria que me hospedei em Santiago de Compostela-Março-2011



Verificando o formato, percebe-se que a concha é um símbolo feminino, análogo ao útero e que evoca a idéia de fecundidade, talvez resida ai a idéia do compartilhamento do conhecimento.
O caminho também tem uma forte  relação com a água, veja que o corpo do Apóstolo Santiago que era pescador, chegou a Galícia  pelo mar. Além disso, na época havia uma grande dificuldade em traçar uma rota segura que proporcionasse bicas ou fontes de água suficientes para que os peregrinos pudessem seguir seu caminho com certeza de abastecimento. Talvez seja essa a relação da concha e sua utilização pelos peregrinos para colher água nas fontes e riachos durante a peregrinação.

Outros dizem que a concha funcionava como uma credencial, um passe que identificava os peregrinos para que estes recebessem abrigo e alimentação dos moradores das vilas localizadas pelo caminho.

Também é possível fazer uma relação segura com o Batismo na Igreja Católica, onde o Padre utiliza a concha para derrubar a água na cabeça daquele que está sendo batizado. O Batismo tem a simbologia de iniciação na igreja, bem como salvação e purificação. Sabe-se que são as mesmas buscas do peregrino durante sua jornada. Assim, a relação entre a concha e o peregrino fica ainda mais estreita.

Provavelmente, Jesus foi batizado como mostram algumas gravuras antigas, ficou com os pés dentro da água, enquanto João Batista usando uma concha lhe jogava água sobre a cabeça.
O próprio João Batista dizia:

 “Eu vos batizo na água, mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a correia das sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo”. (Lucas 3,16).


Gravura ilustrativa do Batismo de Jesus

A concha batismal na Igreja Católica


Em algumas Igrejas Católicas a própria pia Batismal tem o formato da concha.

Escolha a sua concha e boa jornada!

Ultreya!

4 comentários:

  1. Eu ganhei a minha de uma amiga muito especial !!! :-) Adorei o post !!!! Beijãoooo Dani Pasinato

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  2. Oi, tudo bem? Estou começando agora a peregrinar. Ainda não é desta vez que irei a Santiago, mas a minha pergunta é: posso usar a concha em qualquer caminhada? Onde compro a concha? Obrigada!! Meu email é: mgil.mouzer@gmail.com

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  3. Muito obrigado pelas maravilhosas informações. Estou iniciando minha peregrinação pela "Vía de la Plata" e graças ao seu texto poderei a estender até Finisterra e devolver a concha ao mar.

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